segunda-feira, 27 de junho de 2005


Começava a anoitecer... Ela caminhava pela estrada de areia em direcção à praia. Era naqueles momentos de rara beleza ambiental, quando o sol beija o mar, que Margarida se aproximava do lugar onde vivera as maiores alegrias da sua vida. Junto ao farol, ela encontrava-se com o seu passado e recordava os melhores momentos da sua vida.

Ali, naquele lugar, onde o mar beijava a areia e o farol começava a iluminar com a sua luz os pequenos barcos que ao longe na linha do horizonte se avistava, que a mulher adulta vivia por momentos as suas recordações de moça apaixonada e sentia a brisa do mar lhe trazer o cheiro do único homem que amara.

E chorou. Não por aquilo que fez, mas por aquilo que não teve coragem para ser e viver. Pediu perdão, mas sabia que o tempo já não voltaria mais atrás. E sentindo remorsos pela felicidade que deixou fugir por entre os dedos das mãos, Margarida chamou o seu nome, pediu a sua ajuda, como se ele fosse capaz de aparecer do fundo do mar e devolver-lhe a juventude que por cobardia não foi capaz de viver.

E Ricardo era o seu nome... O nome pelo qual ela chamava sempre naquele lugar, na esperança de um dia ele regressar.

O seu choro ouvia-se baixinho... Afinal, ela não estava sozinha. Alguém se encontrava ali e naquele momento Margarida sentiu uma forte presença, um perfume que lhe era característico.

Olhando para trás, viu aproximar-se um vulto que vinha ao seu encontro.

Limpou as lágrimas. E tentou modificar a expressão do seu rosto de modo a parecer bem. Esse vulto agora tornava-se, com o seu aproximar, cada vez mais nítido. Margarida levantou-se com medo de que o homem que chegava pudesse lhe fazer algum mal.

- Não tenha medo! - disse o homem que aparentava uns 40 anos, não mais.

- Que quer?, perguntou Margarida com receio e a voz meio trémula.

- Apenas ouvi o seu choro e tomei a audácia de lhe vir oferecer a minha ajuda se necessitasse.

- Como pôde ter escutado o meu choro se eu própria mal o distinguia?

- Há coisas que não se ouvem com os ouvidos, mas sim com o coração.

Margarida já tivera ouvido aquela frase antes. Não lhe era desconhecida aquela voz e de repente sentia-se a voltar atrás no tempo.

- Margarida, não te lembras de mim? - perguntou com um meigo sorriso.

- És tu, Ricardo? - disse ela com as lágrimas novamente a lhe inundarem o rosto.

- Sou! Voltei! Nunca ouviste aquela frase de que voltamos sempre onde um dia fomos muito felizes? Eu voltei, sim! E voltei porque o tempo me fez ver o que realmente aconteceu. E voltei para recuperar tudo o que deixei fugir.

- Mas disseram-me que tinhas morrido, disse Margarida.

- E tu alguma vez acreditaste nisso?

- Não! Na verdade, o meu coração dizia que não tinhas morrido. Mas eu fui fraca, deixei o meu pai impor-se àquilo que nós sentiamos um pelo o outro e não fui capaz de ser forte e viver contigo tudo o que durante anos chorei amarguradamente.

Ricardo aproximou-se de Margarida, limpou-lhe o rosto com os lábios e sentindo a respiração que começara a tornar-se ofegante, os dois deram um beijo demorado.

E ali permaneceram... A lua cheia já iluminava o céu e o sol já tinha desaparecido no horizonte. Não tinha sido o mar que tinha trazido Ricardo de volta, mas a leve brisa fresca daquela tarde de fim de verão que unia novamente aqueles dois seres que o tempo tinha separado durante tantos anos.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá rapaz. Tens jeitinho sim sr. Fora de brincadeiras, gostei. Espero que continues a escrever para a gente poder ler..
Abraço grande

Anónimo disse...

Ola Rafa!
Antes de mais parabens pelo blog... quanto ao teu conto gostei imenso, da que pensar. Ha escolhas que por vezes sao dificeis mas que nos podem custar a felicidade. De qualquer modo ha smp uma esperança de um dia sermos felizes, acho q é assim q temos de pensar e de agir, temos que procurar a nossa felicidade e nao podemos esperar que ela caia do céu...ha q agir...felicidades!
Margarida